• 20 de novembro de 2013
  • JORNAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
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Cientistas pedem fim da promoção do "carvão limpo"

Grupo argumenta que é uma falácia descrever as atuais tecnologias de queima de carvão como opções de baixo carbono, e que mesmo a mais moderna termoelétrica ainda emite 15 vezes mais CO2 do que as fontes alternativas
Aqui no Brasil vemos ganhar força um conceito que já é bem conhecido em países como Austrália e Estados Unidos: o “carvão limpo”. O governo brasileiro tem planos de ampliar a participação desse combustível fóssil em nossa matriz energética, e começam a circular propagandas e reportagens tentando vender a noção de que é possível produzir energia relativamente limpa com o carvão.

Porém, um grupo de 27 pesquisadores de várias partes do mundo acaba de deixar claro que essa não é uma opção válida, e que tentar promover a ideia de que o carvão pode ser considerado uma fonte limpa é uma atitude que vai contra a meta de manter o aquecimento global em 2oC.

“Não estamos dizendo que não há futuro para o carvão. Mas ainda não existe isso de queima limpa. Se continuarmos a gerar nossa energia dessa forma, estaremos rumando para as piores consequências das mudanças climáticas, porque com certeza ultrapassaremos os 2oC de aquecimento”, declarou P.R. Shukla, do Instituto Indiano de Gerenciamento.

Os pesquisadores, entre eles o brasileiro Emilio La Rovere, da COPPE-UFRJ, divulgaram nesta semana um documento com suas conclusões.

“Mesmo a mais eficiente usina a carvão emite 15 vezes mais CO2 por unidade de eletricidade do que sistemas renováveis de energia, e mais do dobro de usinas a gás. Assim, é enganoso falar em ‘tecnologias de combustão de carvão de alta eficiência e baixas emissões’”, descreve o comunicado.

O grupo, no entanto, reconhece que a Captura e Armazenamento de Carbono (CCS) poderia sim diminuir de forma significativa as emissões da queima do carvão, porém trata-se ainda de uma tecnologia que não provou ser viável em larga escala.

“As alternativas aos combustíveis fósseis já estão disponíveis e são viáveis economicamente. É a indústria do carvão que tem que mostrar que termoelétricas com CCS podem ser competitivas diante dessas opções de baixo carbono”, explicou Bert Metz, da Fundação Climática Europeia.

Carvão deveria ficar no subsolo



Citando os números do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o documento salienta que para termos 66% de chance de manter o aquecimento em 2oC, deveríamos emitir daqui para frente menos de 1050 gigatoneladas de CO2 (GtCO2). Apenas em carvão, as reservas mundiais são o equivalente a 2191 GtCO2.

“Termoelétricas sem a tecnologia de CCS devem continuar existindo nos próximos 40 a 50 anos, justamente nesse período que mais precisamos cortar as emissões. A redução necessária na liberação de gases do efeito estufa não é possível apenas com os novos métodos de queima que são tidos como ‘limpos’ pela indústria”, completou Metz.

Assim, o grupo destaca que a única opção é começar a reduzir o uso do carvão e manter as reservas no subsolo.

Quem também compartilha essa ideia é a secretária executiva da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), Christiana Figueres.

Falando para representantes da indústria do carvão reunidos em um evento paralelo à Conferência do Clima da ONU (COP 19), que está em andamento em Varsóvia, Polônia, Figueres pediu para que o setor seja parte da solução para as mudanças climáticas.

“Já está bastante claro que continuar a queimar carvão só deveria ser uma opção se for encontrada uma forma de fazer isso de maneira compatível com a meta de 2oC. Para isso, é preciso adotar o CCS, desativar as termoelétricas mais antigas e deixar boa parte das reservas de carvão intocadas”, disse.

“A indústria do carvão deve mudar drasticamente e rapidamente para o bem de todos. Existe a oportunidade de vocês serem parte fundamental da solução para evitar as piores consequências das mudanças climáticas”, completou Figueres.

Segundo a ONU, se o aquecimento global ultrapassar a marca de 2oC acima dos níveis pré-industriais, os eventos extremos, como tufões, ficarão muito mais intensos e frequentes, assim como as transformações nos padrões climáticos levarão a imensos prejuízos para a vida humana, os ecossistemas e a economia. No momento estamos cerca 0,8oC acima dos níveis pré-industriais.

Imagem: Termoelétrica de Belchatow, na Polônia / Wikimedia Commons


http://www.institutocarbonobrasil.org.br/noticias3/noticia=735722

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